O e-commerce aposta no crescimento das vendas neste final de ano. Datas como a Black Friday, no dia 25 de novembro, e o Natal, consideradas as melhores para as entregas virtuais, animam os empresários a investir em ações de marketing, novos desenhos para as lojas e políticas de desconto. Segundo especialistas do setor, diante da recessão, os sites de nichos devem sair na frente na recuperação das receitas, enquanto o consumidor da classe A substitui os compradores da faixa C, assustados com a crise.
“No segundo semestre, os números do comércio virtual são historicamente melhores do que no primeiro”, diz Maurício Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). “Além do Natal, a Black Friday já ultrapassou o Dia das Mães em termos de faturamento.”
Em 2015, o evento comercial de novembro movimentou R$ 1,6 bilhão, um crescimento de 43% em relação a 2014. Para se ter uma ideia, as entregas de um dia superaram as transações de toda a quinzena do Dia das Mães, com negócios de R$ 1,5 bilhão, segundo a consultoria Ebit.
Salvador também acredita na melhoria da confiança do consumidor on-line e na retomada da economia como combustíveis para as vendas. De acordo com ele, o crescimento das entregas, medido no primeiro quadrimestre de 2016, foi de 8%, enquanto que o segundo período do ano já cravou 11% de alta, ante 2015.
Na ponta do lápis, as vendas eletrônicas movimentaram R$ 39,5 bilhões em 2014 e R$ 48,21 bilhões em 2015. A expectativa da Abcomm é chegar a R$ 53,5 bilhões no final de 2016 – o menor crescimento do setor (11%), nos três últimos anos.
“O crescimento é menor, mas em termos de faturamento bruto será maior do que em 2015”, diz o especialista, que aponta os segmentos de eletrodomésticos, celulares, moda, alimentos e bebidas como os destaques do final de ano. “Os empresários devem se concentrar em atender demandas específicas. São os e-commerces de nicho que estão dando lucro.”
No lado dos consumidores, há um afastamento contínuo das famílias da classe C das compras virtuais, segundo Pedro Guasti, CEO da Ebit. No primeiro semestre de 2015, esse grupo representava 43,5% das encomendas e agora recuou para uma fatia de 37,5%. “Como consequência, consumidores das classes A e B ganham participação”, diz o executivo, baseado na 34ª edição do relatório WebShoppers, que reúne dados do mercado.
O estudo indica que o número de consumidores virtuais engordou no primeiro semestre de 2016, com 23,1 milhões de compradores, em comparação a 17,6 milhões no mesmo período do ano passado, um crescimento de 31%. “Há mais gente migrando para as compras virtuais.”
Do lado dos lojistas, o mercado se adapta para sobreviver a tempos mais difíceis. Para melhorar a rentabilidade, Guasti diz que as empresas reduziram a oferta do frete grátis, que caiu de 43% de participação, no primeiro semestre de 2015, para 23% no mesmo período de 2016. Outra iniciativa foi incentivar pagamentos à vista, que chegam agora a 42% dos negócios virtuais, contra 39,6% no primeiro semestre de 2015.
“O pior da crise já passou e deveremos ter uma melhora nos resultados a partir de agora”, diz. Pesquisa de intenção de compra realizada no terceiro trimestre de 2016 pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) aponta alta de quatro pontos percentuais em relação ao trimestre anterior, com um índice de 84,4%.
Outra análise de intenção, encomendada pelo Google Brasil, indica que as vendas da Black Friday devem aumentar de 20% a 30% em relação ao ano passado, para um valor entre R$ 1,9 bilhão e R$ 2,1 bilhões. “Os pequenos e médios e-commerces precisam oferecer produtos personalizados para minimizar a competição com os grandes do setor”, diz.
É o que está fazendo Sabrina Nunes, CEO da Francisca Joias, site carioca especializado em semijoias. Com 12 funcionários, a loja já nasceu on-line e oferece 3,2 mil itens. “Queria vender pela internet, mas descobri que precisava de opções com design exclusivo.”
A curva de entregas subiu de três pedidos por semana, em 2012, para uma base de 56 mil clientes, em 2016. Com um tíquete médio de R$ 187 no varejo e de R$ 1,3 mil para o atacado, as vendas médias mensais de R$ 220 mil ajudaram a irrigar o faturamento de R$ 1,8 milhão, obtido em 2015. A expectativa para 2016 é chegar a R$ 2,5 milhões. Para driblar a crise, o plano é recrutar revendedoras. “Já temos 475 profissionais em todo o país”, diz a executiva.
Segundo Leandro Soares, diretor de marketplace do Mercado Livre, considerado o oitavo e-commerce mais acessado do mundo, um dos segredos para fermentar receitas on-line é criar ofertas realmente atrativas. “Preço competitivo é um dos fatores que mais chamam a atenção do consumidor”, diz. “Compras parceladas e frete grátis também estimulam o consumo.”
Rafael Silva da Cunha, sócio do Laris, com uma cartela de mil produtos para casa e decoração, sentiu uma retração de cerca de 15% nos negócios, por conta da recessão, entre janeiro e agosto. Uma das estratégias para reverter o cenário é negociar com antecedência, com os fornecedores, para conseguir descontos e repassar vantagens para o consumidor.
Recentemente, o empresário investiu em um sistema de avaliação para analisar a experiência de compra do internauta. “As vendas devem subir no final do ano”, acredita ele, que faturou R$ 80 mil em 2015 e espera chegar a R$ 140 mil, em 2016.
A diretora do site No Chuveiro, Patrícia Maciel Beaucamp, espera um aumento de, pelo menos, 35% nas vendas, com a Black Friday e o Natal, em relação ao primeiro trimestre de atuação da empresa, sob novo comando desde maio. “O final do ano é um bom período para o segmento de beleza para cabelos porque as pessoas querem ficar mais bonitas para as festas”, diz.
A loja on-line, com ofertas da marca de cosméticos La BellaLiss, tem 1,8 mil clientes cadastrados, com vendas mensais de R$ 28 mil. Para turbinar pedidos, vai investir em novas embalagens e reforçar parcerias com blogueiras. Quinze por cento do faturamento devem ser aplicados nas novas ações.
Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/4730415/confianca-virtual