No comércio de rua mais popular do Brasil, a rua 25 de março no centro de São Paulo, o Papai Noel ainda disputa espaço com as abóboras e bruxas de Halloween.
Ainda que de forma bem tímida, o Natal já começou. Os estoques estão reforçados e algumas vitrines já estão montadas.
Por enquanto, o principal movimento é de pequenos comerciantes do interior que descem a Ladeira Porto Geral para abastecerem suas lojas para o grande período de compras.
A maioria dos consumidores ainda não está pensando nas compras de fim de ano. Mas já é possível ver que os mais precavidos carregando sacolas com enfeites e árvores.
O clima é de otimismo contido tanto por parte dos clientes, como dos vendedores.
De acordo com Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a expectativa é que as vendas cresçam entre 3% e 5% em relação ao ano passado.
“É um bom resultado, mas nada excepcional porque a base de comparação é muito fraca”, afirma Solimeo em referência a 2016, considerado o segundo pior Natal desde o início do plano Real.
A queda da inflação e da taxa básica de juros deve melhorar o humor dos consumidores. Outro fator positivo é a melhora tímida do emprego.
Solimeo acredita que o Natal da lembrancinha ficou para trás. “Neste ano, o valor dos presentes deve ser maior do que no ano passado”, diz.
MUDANÇA NA BLACK FRIDAY
A Black Friday pode prejudicar ainda mais essa modesta festa. Para Solimeo, a data, que cai no final do mês de novembro, pode canibalizar as vendas do período.
Luís Augusto Ildefonso, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), tem opinião similar.
Com a proximidade do Natal e a primeira parcela do 13º salário em mãos, muitos consumidores aproveitam para adiantar as compras. Os itens mais procurados costumam ser os aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos.
Os comerciantes argumentam que a data prejudica o faturamento das lojas.
“Há cinco ou seis anos, as pessoas compravam os produtos pelo preço cheio na época do Natal”, afirma Ildefonso. “Agora, os varejistas têm de espremer as margens para acompanhar os valores da Black Friday.”
Por isso, a Alshop e uma comissão de lojistas estuda mudar a data para um mês em que o movimento seja baixo, como março, agosto ou setembro. A expectativa é que a nova Black Friday já ocorra em 2018.
Pedro Guasti, presidente da E-bit, acredita que a mudança não irá gerar os resultados esperados.
“A Black Friday já encontrou para o calendário do varejo”, afirma Guasti. “Acho pouco provável que os lojistas irão aderir a uma nova data.”
De acordo com Guasti, os comerciantes já estão preparados para a data, muitos negociam meses antes com as indústrias para conseguir descontos.
Durante a sexta-feira das promoções, há varejistas que faturam 20 vezes mais do que em um dia comum.
O sucesso da data no Brasil se deve exatamente à proximidade do Natal e poder de compra gerado pelo 13º salário. Sem esses dois elementos é pouco provável que as promoções tenham o mesmo apelo para os clientes.
A expectativa é que as vendas da Black Friday cresçam 15% em relação ao ano anterior, de acordo com a E-bit. O faturamento das lojas deve ser superior a R$ 2 bilhões.
“Há uma demanda reprimida por causa da recessão. Muitos consumidores estão esperando as promoções para poderem comprar”, afirma Guasti.
SHOPPINGS
Diferente do comércio de rua, o Natal não começou na maioria dos shoppings paulistanos. Ainda não há enfeites pelos corredores e as lojas ainda não receberão a decoração.
No Shopping Pátio Paulista, por exemplo, o único indício de que a data se aproxima são os panetones que começam a chegar às lojas de doces e cafés.
A expectativa da Alshop para a data é otimista: alta de 4% a 5,5% no final de ano.
Além da melhora dos índices econômicos, outro fator colabora para essa estimativa: o aumento do movimento nos shoppings.
De acordo com a pesquisa Ibope Inteligência e da Mais Fluxo, o tráfego de pessoas nos shoppings do país cresceu 4,4% em setembro em relação ao mesmo mês de 2016. A alta foi puxada pelos shoppings populares.
EMPREGO
As contratações de final de ano devem acontecer em meados novembro e início de dezembro.
A estimativa é de que 115 mil pessoas conquistem uma vaga de emprego temporário durante as festas de fim de ano.
Ildefonso acredita que o trabalho intermitente, que possibilita que as empresas contratem os trabalhadores para as horas de pico, deve beneficiar o setor durante o período.
A expectativa de ganho de produtividade com as novas categorias de emprego deve contribuir para que as vendas no Natal cresçam 2% nos shopping centers.
Marcel Solimeo acredita que as modalidades criadas pela reforma trabalhista ainda não serão amplamente utilizadas neste ano. “A legislação ainda é muito nova e já foi muito contestada”, afirma Solimeo. “Ainda não deve ter um reflexo muito grande no varejo.”