A rede americana Dunkin’ Donuts anunciou sua retomada do mercado brasileiro por meio de franquias. A Óticas Diniz conquistou, em 2017, o primeiro bilhão de reais em faturamento em 25 anos de atividades. A iGUi Piscinas, a mais internacionalizada rede de franquias do país passou a diversificar os negócios para atingir a meta de crescer 15% esse ano.

Esses são apenas alguns exemplos de como o franchising continua a seguir em frente. Mesmo diante da estimativa de um PIB menor que 1%, inflação na casa dos 3% e do crescimento das vendas do comércio varejista em torno de 1,5%, o setor continua descolado do cenário político e macroeconômico e deve encerrar 2017 com alta de 9% no faturamento.

A expectativa é da ABF (Associação Brasileira de Franchising), de acordo com Altino Christofoletti Jr., presidente da entidade. Até o 3º trimestre, o faturamento do setor passava dos R$ 159 bilhões, ante R$ 151 bilhões apurados ao longo de 2016, quando a alta foi de 8,2%.

O pagamento das contas inativas do FGTS, a readequação dos gastos por parte do consumidor para itens de melhor custo-benefício, como a reforma da casa, puxaram a retomada gradual de alguns setores mais impactados no ano passado, como construção civil, moda e beleza.

“Principalmente para as redes que começaram a utilizar não só o franqueado e a loja física como ponto focal e o e-commerce e o mobile em uma estratégia omnichannel para melhorar a experiência do cliente”, afirma Christofoletti.

A melhora dos índices de confiança e a redução das taxas de juros também influenciaram na expansão das redes, que devem fechar o ano com alta de 3% em número de unidades.

Até o 3º trimestre, 147.539 estavam em atividade (alta de 3,5%, ante 1,3% que foram fechadas).

“Só não teremos aumento no número de marcas (que devem se manter em torno de 3 mil), mas sim a consolidação das que já existem”, diz o presidente da ABF.

Outro dado importante puxado pela abertura de unidades, segundo ele, é o saldo positivo de empregos, que ficou em 1,2 milhão –uma elevação de 0,4% ante os 12,2% da taxa de desemprego apurados até outubro (dados do IBGE).

“Ao contrário do varejo como um todo, no franchising esse número cresceu.”

Para 2018, mesmo sendo ano de eleição e Copa do Mundo a expectativa é que o setor volte a crescer dois dígitos “ainda que mais baixos”, segundo Christofoletti – ou seja, na faixa entre 10% e 11%. Dentro desse contexto, o número de unidades deve chegar aos 5%.

“Os empregos também devem acompanhar esse crescimento”, afirma.

QUENTE x FRIO                                       

Entre os segmentos que vão se destacar no próximo ano está, de novo, o de alimentação, que concentrou 20% das franquias no Brasil em 2016, e só no 3º trimestre de 2017 movimentou R$ 10,9 bilhões (alta de 6% ante igual período do ano anterior), segundo dados da ABF.

Segundo Marcus Rizzo, sócio-fundador e consultor da Rizzo Franchise, a falta de tempo dos consumidores deve incrementar o crescimento das redes de comida pronta.

Mas desde que se preparem: segundo ele, vão se destacar as redes que se concentrarem no atendimento, na eficiência da operação e na redução de filas para oferecer a melhor experiência para o cliente. “Afinal, inovar não é só aumentar o cardápio”, afirma.

Nessa esteira, crescem também as franquias de serviços como delivery e entregas, assim como os de serviços especializados (manutenção e conservação residencial e comercial), afirma Rizzo. “O que as pessoas mais querem comprar é conveniência.”

Outro segmento em potencial destaque, puxado pelo envelhecimento da população e pelo aumento da expectativa de vida é a área de saúde, hoje já atendida por franquias odontológicas, de farmácias, de home e senior care, e agora, de clínica médica.

“São negócios que começam a crescer. O mercado dirá”, sinaliza.

NO ON E NO OFFLINE

Uma tendência que estará cada vez mais presente no franchising, de acordo com Altino Christofoletti Jr., será a integração entre o on e offline, ou seja, entre o ambiente físico e o digital.

“É uma simbiose cada vez mais positiva, que já apresenta resultados bastante interessantes”, acredita o presidente da ABF.

Um dos exemplos é a rede O Boticário que, além de explorar canais como vendas diretas e e-commerce, acaba de lançar uma loja interativa no Barra Shopping (RJ), onde consumidores podem fazer experimentações e viagens multimídia ao universo de fragrâncias da marca. Ou a Dídio Pizza, que já usa até chatbots para diminuir o tempo de entrega para o consumidor final.

Algumas franquias de serviços também começaram a adotar essa estratégia – como a CNA, de ensino de idiomas. Há um ano e meio, a rede viu a taxa de conversão em vendas aumentar 16% após implantar a plataforma CNA Olá, baseada em tecnologia mobile first (conceito onde o foco inicial da arquitetura e desenvolvimento do projeto é direcionado a dispositivos móveis).

Graças a ela, é possível comparar preços, tirar dúvidas, fazer teste de nível e até… comprar o curso. Nessa etapa, a ida à escola (ou ao “ponto físico”) será só para o futuro aluno assinar o contrato.

“Sozinha, a plataforma fechou cinco mil matrículas (nesse período), a custo zero para o franqueado”, afirma Eduardo Murin, diretor comercial do CNA.

Esse impacto, que a rede consegue medir diretamente, por enquanto representa de 1% a 2% a mais no resultado como um todo. “Mas mostra que consumidor já cruza os canais como etapa intermediária para concluir a compra no ponto físico”, diz Murin.

Mas a franquia precisa ficar atenta para não permitir que a integração entre o on e o off line se confunda com a exploração de canais diversos de distribuição –multimarca, multiformatos, e-commerce ou venda direta, segundo Rizzo -o que deve esfriar a participação dos segmentos de perfumaria e cosméticos nos próximos dois anos.

“É uma competição que gera canibalismo entre eles e que pode provocar, como já aconteceu no passado, o fechamento de lojas e o desaparecimento de marcas”, conclui.

https://dcomercio.com.br/categoria/negocios/franquias-devem-fechar-2017-com-alta-de-9